Telecomunicações móveis – 3ª Geração.
Sim ou não?



 

fotos de protótipos e concepts de telemóveis (c) www.nokia.com



Por: Joaquim Hortinha
in Jornal de Negócios
2002-08-14


As promessas continuam. Os operadores de telecomunicações móveis continuam a inundar o mercado com imagens de consumidores felizes a utilizarem os seus telefones móveis para fazer tudo em todo o lado e isto imagine-se, com velocidades de transmissão ‘supersónicas’. É uma ideia que certamente nos agrada, podermos falar, navegar, trocar ficheiros ou simples mails, utilizando o mesmo telefone quer estejamos em Lisboa ou em Sidney. Contudo, se isto um dia se irá passar no mundo real, isso, ainda existem muitas dúvidas e as opiniões divergem. Há quem pense que a 3ª geração (UMTS) é viável e necessária, no entanto também há opiniões que se trata de um desperdício de dinheiro equivalente ao da fúria dos primeiros tempos da Internet, em que vão incorrer os operadores, os fornecedores de conteúdos e os próprios consumidores. Neste artigo procura-se contextualizar a 3ª Geração com a oferta existente (as outras Gerações!), discutir os seus prós e contras e fazer um ponto de situação da matéria.

 

A 3 G e as outras G’s

A primeira geração (1 G) de redes de telecomunicações móveis utilizava tecnologia analógica para transmitir voz. Em Portugal apenas a TMN chegou a oferecer serviços utilizando a 1G, cuja principal característica era a elevada dimensão do equipamento terminal, nada prática de transporte, pelo que quase sempre o equipamento era montado na viatura e havia até quem lhe chamasse ‘teleautomovel’ e não telemóvel, porque na realidade de telefone portátil tinha pouco. Depois veio a segunda geração (2G), que utilizando tecnologia digital, em quase todo o mundo com o standard GSM (Global System for Mobile Communications), permitiu melhorar a qualidade das transmissões de voz e a transmissão de dados. Hoje a novidade é a 2.5G, que utilizando tecnologia GPRS, que permite que pacotes de dados sejam enviados em separado da voz, permitindo maiores velocidades de transmissão. Para além do GPRS existe a tecnologia EDGE (Enhanced Data Rates for Global Evolution) que permite atingir velocidades de transmissão de dados muito perto das preconizadas para a 3G, e isto utilizando a rede GSM. Finalmente a 3G, que virá ai, promete velocidades mais elevadas de transmissão de dados, que permitirá disponibilizar conteúdos multimédia de qualidade, e um aumento da capacidade da rede, que teoricamente permite aos operadores ultrapassar eventuais problemas de saturação.

 
fotos de protótipos e concepts de telemóveis (c) www.nokia.com
 

As Promessas e as Dúvidas da 3G

Para alguns analistas o facto de a 3G se ter posicionado como a tecnologia que iria permitir o acesso à Internet em Banda Larga a partir do telemóvel, permitindo velocidade de 2 Mbps e na realidade se estar já a trabalhar em situações abaixo de 200 Kbps, retirou algum crédito ao UMTS. Para além deste facto há também a questão da dimensão do terminal de acesso. Como se sabe, os telemóveis tem vindo a ‘emagrecer’, o que não é compatível com a necessidade de visualização de conteúdos multimédia, pois o écran é pequeno e não existe um teclado. Estes aspectos levantam a questão pertinente sobre para que serve ter banda larga, quando se tem um terminal com estas características, que não permite a exploração da mesma.

O exemplo vivo e mais parecido com o UMTS é a tecnologia i-Mode, utilizada pela NTTDoCoMo no Japão, que permitiu o lançamento de serviços destinado sobretudo aos jovens. O dispositivo terminal utilizado até possui um écran de dimensões simpáticas, contudo para além de mostrar alguns Clips, pouco mais funcionalidades possui, dado que não possui teclado e a navegação é complicada. O que se tem vindo a verificar é que os utilizadores utilizam maioritariamente o iMode para enviar mensagens e fazer jogos e não para navegação na Internet.

O que os ‘cépticos’ em relação ao UMTS alegam é se a Banda Larga é mesmo necessária num telemóvel, na medida em que a Banda Estreita satisfaz as necessidades que as pessoas têm em relação à exploração do mesmo. Poderemos perguntar pelo e-mail, pela previsão do tempo, pelas noticias, cotações bolsistas ou como descobrir o restaurante mais próximo, contudo tudo o que referimos já está disponível hoje em dia em banda estreita, com a geração 2.5.

Os defensores dizem que, em termos empresariais, uma das vantagens reside na possibilidade de enviar e-mails com ficheiros anexos de grandes dimensões, o que constitui uma excelente ferramenta de suporte à mobilidade. Outros de modo simples dizem que o tempo trará as aplicações e os conteúdos que necessitam de 3G para funcionar no móvel.

 
fotos de protótipos e concepts de telemóveis (c) www.nokia.com
 

Qual a situação actual

A euforia vivida em torno da Internet, reviveu-se em parte com o UMTS, tendo os governos dos diferentes países realizado leilões, concursos ou venda directa para atribuir as licenças para explorar este ‘negócio virtual’ aos diferentes operadores. Esta situação levou a que, na grande maioria das situações, as empresas licenciadas pagassem verdadeiras exorbitâncias, que hoje, noutro contexto, sabem que dificilmente irão recuperar. Hoje, conclui-se que os erros cometidos se devem sobretudo à inexperiência, já que todos estavam interessados na 3G, mas ninguém sabia exactamente o modelo de negócio em que a mesma iria suportar-se, para além de que tecnologicamente as coisas estavam bastante aquém do que se pensava.

Assim, com milhões investidos em algo ‘virtual’ os operadores começaram a procurar alternativas, que utilizando a tecnologia disponível permitissem, com etapas intermédias, rentabilizar, pelo menos parcialmente as avultadas quantias investidas e ir criando necessidades no mercado. É neste contexto que surge a 2.5 G, suportada nas tecnologias GPRS e EDGE, na qual a maior parte dos operadores irá apostar nos próximos dois/três anos. A maior parte dos analistas do sector considera hoje suficiente esta tecnologia, na medida em que a mesma representa já um passo em frente, que irá permitir de imediato aos diversos actores da cadeia de valor do sector, como ISP’s, fornecedores de aplicações e de conteúdos, realizar negócios e ganhar algum dinheiro, à medida que se preparam e ganham experiência para a 3 G.

  

GLOSSÁRIO

2.5 G – Designação atribuída às tecnologias GPRS e EDGE

3 G – Designação atribuída à tecnologia UMTS

EDGE (Enhanced Data rates for Global Evolution) - Nova técnica de modulação de frequências que, juntamente com melhoramentos no protocolo de rádio, permite aos operadores usarem com maior eficiência os espectros GSM 800, 900, 1800 e 1900. O EDGE suporta dados, serviços e aplicações de multimédia até 384 Kbps e, em certos casos, até mais. Neste sentido, o EDGE é uma evolução do GPRS standard

GPRS (General Packed Radio Services) - Geração de comunicações móveis que está entre o GSM e o UMTS, permitindo um maior leque de opções que os sistemas de 2ª geração (GSM)

GSM (Global System For Mobile Communications) - Tecnologia de rede móvel digital standard nos países europeus. Tipicamente funciona na Banda GSM 900 e GSM 1800 nestes países, enquanto nos Estados Unidos e no Canadá funciona na Banda GSM 1900

i-Mode - Tecnologia utilizada pela empresa japonesa de telecomunicações móveis NTT DoCoMo, que permite o acesso à Internet através de telefone móvel. Esta tecnologia permite a disponibilização de funcionalidades como e-mail, troca de fotografias, shopping, homebanking e um sem número de outras, disponíveis em sites preparados para o efeito

UMTS (Universal Mobile Telecommunications System) - Terceira geração de comunicações móveis que vai substituir o GSM, permitindo a distribuição de informação em Banda Larga, que pode atingir os 2 Mbps, oferecendo um conjunto de serviços que podem ser utilizados em qualquer local do mundo

 

 

Joaquim Hortinha

Professor Universitário, Autor do livro e-Marketing - Um Guia para a Nova Economia. Comentários para autor e editor para
webmaster@e-marketinglab.com


Resumo Curricular do Autor


Joaquim Hortinha, Setembro de 2000

Licenciado em Engenharia Electrotécnica e Computadores pelo IST (Instituto Superior Técnico), MBA pelo ISCTE (Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa) e Mestre em Ciências Empresariais pelo ISCTE. Actualmente é Professor do ISEG (Instituto Superior de Economia e Gestão), onde assegura a docência da disciplina de e-Marketing nos Cursos de Pós-Graduação de Marketing Management e e-Business. Colabora ainda na disciplina de Marketing de Serviços do Mestrado em Ciências Empresariais do ISCTE. Leccionou no MBA de Marketing do CEDEPE no Recife-Brasil e exerceu ainda actividades de docente e consultor/formador no ISCTE, IPAM (Instituto Português de Administração de Marketing), Universidade Lusófona, Fundetec, Grupo Egor, INETI (Instituto Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial), Instituto de Merchandising e Editora McGraw-Hill.

Subdirector de Negócios Internet da ONI Telecom, detendo a responsabilidade pelo Marketing e Vendas. Foi anteriormente Marketing Manager do portal Sapo e Director Adjunto de Marketing da TV Cabo Portugal. No seu percurso profissional são ainda de referir a Schneider Electric Portugal, como Marketing Manager e Key Account e a Brisa-AutoEstradas de Portugal, como Coordenador de Projectos. É autor do livro E-Marketing - Um Guia para a Nova Economia, lançado em 29 de Janeiro de 2001, co-autor do livro Marketing Internacional, considerado como livro do ano de 1998 pela revista Executive Digest e autor de diversos artigos de opinião nas áreas de gestão e marketing, publicados quer em jornais e revistas de carácter científico, quer de informação geral. Actualmente tem uma coluna mensal sobre Marketing no Jornal de Negócios, no Suplemento de Negócios & Estratégia. Tem como principais hobbies a Investigação Cientifica e o Golfe.

 

Contacto:
Joaquim Hortinha 
webmaster@e-marketinglab.com

 


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